Mostar é uma cidade que guarda uma das histórias mais emblemáticas dos Bálcãs. A ponte Stari Most, construída no século XVI pelo arquiteto otomano Mimar Hayruddin, era considerada uma obra-prima da engenharia da época, uma única curva perfeita ligando as duas margens do rio Neretva, símbolo de convivência entre culturas, povos e religiões diferentes.

Durante a guerra da Bósnia, em 1993, a ponte foi destruída por bombardeios, em um dos episódios mais dolorosos do conflito. A cena correu o mundo e passou a representar não apenas a perda física de um monumento, mas a ruptura do tecido social da região. Para os moradores, ver Stari Most cair foi como assistir parte da alma da cidade desaparecer.

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Após o fim da guerra, a reconstrução da ponte tornou-se um projeto internacional. Arqueólogos, engenheiros e artesãos trabalharam por anos usando as mesmas técnicas originais. Ainda assisti a blocos de pedra serem retirados do mesmo tipo de rocha, cortados à mão e posicionados como no século XVI. Em meados de 2004, voltei a Stari Most e deparei com um local renascido, não como réplica, mas como continuidade da história.

Em 2015, vi que Mostar combina tradição otomana, arquitetura medieval, cafés vibrantes e um rio de cor verde-esmeralda que parece pintado. Tal e qual, como fui habituado a ver jovens a saltar do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís em Gaia/Porto para o rio Douro, em Mostar, ainda pulam da ponte para o rio num ritual que existe há séculos, perpetuando a conexão da cidade com seu símbolo maior.

Mostar é um lembrete poderoso de que a guerra destrói, mas a memória e a cultura podem reconstrói.

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By VO